Abertura da mostra fotográfica será no dia 20 de dezembro, às 18h, no Museu Cais do Sertão

Ter coragem de realizar o que se sonha, mesmo quando isso envolve riscos, é um ato de ousadia. Partindo dessa reflexão, a fotógrafa Thays Medusa apresenta a exposição “Nós Ousamos Sonhar”, com curadoria de Bell Puã. Trata-se de uma mostra que propõe a construção de uma nova narrativa sobre as pessoas periféricas, destacando o direito de sonhar e a conexão com a comunidade como forças motrizes das realizações. Com entrada gratuita, a abertura será no dia 20 de dezembro, às 18h, no Museu Cais do Sertão, no Bairro do Recife.

“A exposição Nós Ousamos Sonhar nasce desse desejo de mostrar que sonhar é um ato político e possível, mesmo pra gente que vem da favela. Eu quero que cada pessoa se veja ali — nas imagens, nas cores, nos sorrisos — e que isso fortaleça o sentimento de pertencimento de quem vive. Porque a gente é de favela, né? Quando a gente sonha junto, a gente constrói o futuro”, disse a fotógrafa sobre a importância do projeto na comunidade.

A exposição convida o público a mergulhar nas fotografias feitas dentro da Favela do Canal, no bairro do Arruda. Pelo seu olhar sensível, Thays Medusa retrata as projeções de futuro sonhadas por crianças, adolescentes e jovens que modelam no coração da comunidade, transformando a quebrada em um grande estúdio a céu aberto.

É nesse cenário — entre becos, cores e afetos — que crianças e jovens retratam seus próprios sonhos: o que são hoje e o que desejam ser amanhã. Cada fotografia une realidade e imaginação, com figurinos e composições que misturam o cotidiano e o sonho, mostrando que é possível alcançar o futuro sem sair de casa.

“Nós Ousamos Sonhar” é a continuação da exposição “Eles Têm Medo de Nós”, expandindo o olhar sobre quem somos, quem fomos e, principalmente, quem queremos ser. Se antes a narrativa falava sobre medo e resistência, agora o foco é o sonho.

Na época, a fotógrafa morava na comunidade do Bode, no bairro do Pina, Zona Sul do Recife. Ali, Medusa retratou o cotidiano das famílias que residem na comunidade de cultura pesqueira, registrando suas lutas, alegrias e realidades. “Na exposição anterior, eu podia falar sobre pessoas que eu realmente conheci, com quem realmente passei um tempo, vivi, convivi e, por isso, podia falar com propriedade”, relembrou.

Agora morando no bairro de Campo Grande, no Recife, seu olhar se volta para as transformações dentro da Favela do Canal, no Arruda, Zona Norte da cidade.

“Então, eu pensei em falar dessa vez a partir da vivência de uma pessoa da comunidade que já atua com essas famílias, com essas crianças, que já atua no território. Daí, convidei um amigo, Okado do Canal”, afirmou.

“O que tem em comum entre as crianças das favelas? Eu tenho certeza que são os sonhos. Esses sonhos movem elas, movem a gente que é de favela desde muito novo e transformam essas fabulações em realidade com o que a gente tem. Tipo, com o que a gente tem mesmo, com o nosso estilo de favela, com o nosso estilo de cria, e transforma isso nesse grande sonho”, finalizou.

A curadoria é assinada pela poeta, escritora, cantora, compositora e atriz pernambucana Bell Puã. Para a mestra em história pela Universidade Federal de Pernambuco, o valor da mostra é inestimável e está concentrado no pertencimento desse grupo de pessoas.

“A exposição Nós Ousamos Sonhar tem esse valor inestimável do pertencimento, de quebrar estereótipos. A gente destaca Okado do Canal, esse grande artista da favela do Arruda, que semeia nessas crianças possibilidades de sonhos, possibilidades de um futuro bonito de viver — totalmente na contramão dos estereótipos negativos que tanto se fazem sobre o povo que vive nas favelas”, destacou a curadora.

Traçando um futuro pela arte que pulsa na favela

“Nós Ousamos Sonhar” parte da história de Okado do Canal — professor de breaking, rapper, ator e referência cultural na quebrada — que há 18 anos constrói um movimento transformador com crianças e adolescentes através da arte e da dança. A partir dele, a narrativa se expande para falar de todos os meninos e meninas que ousam sonhar mesmo em meio às dificuldades.

Desde a infância, Okado nutria o amor pela dança e transformou esse amor em alimento dentro da Favela do Canal. “Às vezes, eu queria dançar na roda, mas não tinha aquela moral de botar o pé por ser criança. Não tinha batalha para criança, tá ligado? Não tinha batalha kids. Eu sempre ficava pensando: quando eu crescer, vou ter uma academia de dança, porque o compromisso do Hip Hop sempre foi esse”, contou o artista ao relembrar sua trajetória com o breaking.

Em 2018, Okado transformou o sonho em realidade ao fundar o Espaço Cultural do Beco. Logo começou a compartilhar seus conhecimentos de dança, cinema e os valores adquiridos na cultura Hip Hop com crianças, adolescentes e jovens da comunidade. “O espaço consegue ser esse sonho — um sonho coletivo. De transformação aqui na favela. Um caminho para que o Hip Hop consiga fazer por essas crianças a mesma coisa que o Hip Hop fez por mim”, destacou, lembrando os encontros realizados junto à fotógrafa com a criançada da comunidade ao longo do mês de outubro.

Além de Okado, o artista visual Afro’G também estampou as fotografias realizadas por Medusa. Nas imagens, ele aparece grafitando uma jaqueta que o b-boy veste, assim reforçando os elementos do Hip Hop presentes nas vivências de ambos. 

“Nós temos sonhos, grandes sonhos e possibilidades de realizar esses sonhos, mas muitas vezes o que falta é autoestima, que é retirada da gente desde criança. Às vezes as pessoas ao nosso redor reforçam que não somos bonitos, nosso cabelo não é bom e que a gente não tem capacidade. E cultivar uma boa autoestima é importante para nosso crescimento pessoal e profissional no decorrer da vida. Pela fotografia, Medusa traz essa dignidade ao ser, a mesma forma de que uma pintura também traz.”, refletiu o artista, que também falou sobre infância na exposição “Nostalgia: memória e infância negra”.

Em “Nós Ousamos Sonhar”, as trajetórias de Okado do Canal e Thays Medusa se cruzam como um ato de esperança coletiva. Uma celebração das potências da favela, dos sonhos que sobrevivem e florescem nas margens, e do poder da arte em transformar realidade em futuro com dignidade — longe das mazelas sociais que frequentemente aprisionam pessoas periféricas em ciclos de violência, escassez e falta de acesso.

BIOGRAFIA

Sobre Thays Medusa

Thays Medusa é uma mulher negra que usa seu olhar através das lentes para retratar e contar suas próprias histórias e as do território onde vive, estimulando conceitos de amor próprio, autoestima e autoconhecimento na população preta. Cria da periferia de Paudalho, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, mora no Recife há 7 anos, onde desenvolve a maioria dos seus trabalhos.

Sobre Okado do Canal

Okado do Canal, Rapper, Ator, Bboy e Arte-Educador, iniciou sua trajetória

aos 11 anos no cenário do Hip Hop recifense. Destacou-se nacionalmente por suas

habilidades nas batalhas de Breaking e conquistou reconhecimento no cinema

pernambucano. Além de suas proezas no Hip Hop, fundou o espaço cultural Ladobeco em

sua casa, onde oferece diversas oficinas para crianças e adolescentes, refletindo seu

compromisso com a cultura e educação. Apesar de suas incursões em diferentes formas de

expressão, seu vínculo inabalável com o rap continua a ser a essência de sua arte, sendo o

meio pelo qual inspira outros.Se apresentou em em locais como São Paulo, João Pessoa, Salvador, Aracaju, Eslováquia, Viena e Napoli, Okado já dividiu palco com renomados artistas, incluindo Karol Conká, Major Rd, MV Bill, Eduardo Tadeo,Rapadura, ADL, MC Leozinho General, Shevchenko e Elloco NSC, entre outros.

Sobre Bell Puã

Bell Puã é poeta, escritora, cantora, compositora e atriz pernambucana, além de Mestre em História pela UFPE. Foi vencedora do Campeonato Nacional de Poesia Falada – SLAM BR (2017), representando o Brasil na Poetry Slam World Cup (2018), em Paris. Venceu o Prêmio Malê (2019) e o Prêmio Conceição Evaristo, da IV edição do Prêmio Palmares de Arte (2024). É autora dos livros É que dei o perdido na razão (Castanha Mecânica, 2018); Lutar é Crime (Letramento, 2019), finalista do Prêmio Jabuti (2020) na categoria Poesia; e Nossa História do Brasil: Pindorama em poesia (2024). Participou de diversas feiras literárias no Brasil e no exterior, como FOLIO (Portugal), FLIM (Maringá – PR), FLIP (Paraty – RJ), Bienal do Livro de Pernambuco e FLUP (Rio de Janeiro e Recife).

Na música, colaborou nos discos Manual de sobrevivência para dias mortos, de China (2019), e Do Meu Coração Nu, de Zé Manoel (2020), álbum indicado ao Grammy Latino 2021. Em 2024, lançou seu primeiro EP, Jogo de Cintura, em pesquisa baseada no Rap e no Drill, dialogando também com ritmos populares como coco e funk.

SERVIÇO

Exposição: Nós Ousamos Sonhar

Abertura: 20 de dezembro, às 18h

Em cartaz: 20 de dezembro a 16 de janeiro de 2026

Local: Museu Cais do Sertão (Avenida Alfredo Lisboa, s/n, Armazém 10 do Porto do Recife, Bairro do Recife – PE)

Entrada gratuita

*Ficha técnica*

Exposição Nós Ousamos Sonhar

Thays Medusa – fotógrafa e idealizadora do projeto @olhardamedus4

Bell Puã – curadoria @bellpua_

Mila Barros – produção @milabarrospinta

Palas Camila – produção @palascamila

Expografia: J. Melo Egeneson e Mago Ferreira

Montagem: J. Melo, Egeneson, Mago Ferreira e Rômulo Nascimento 

Montagem fina e iluminação: J. Melo Egeneson Ferreira | Mago Ferreira | Rômulo Nascimento

Clara Monteiro – design e ilustração @estudiohust

Hannah Storm – figurino, acervo e produção de moda @hnnhstorm @akastormx

Kael Medeiros – videomaker e creator mobile @kaelmedeirosfilm @kaelsemlote

Maya Albuquerque – fotografia still e coordenação de comunicação @delfuego.ft @lagartadelfuego

Maya Santos – assessoria de imprensa @zuadacomunicacao @mayacsantos

Brenda Costa – assistente de assessoria de imprensa @brendacostt

Okado do Canal – artista convidado @okadodocanal

Personagens:

Afro’g, Davi Medeiros, Hillary Vitória, Ivanilza Cristina, Laylla Emanuelly, Luiz Francisco, Matheus Renan, Thaylla Rayssa e Wisllanny Leandra.

@delfuego.ft

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~ Cláudio Abramo