Com mais de 30 atrações, entre locais, regionais e nacionais, o festival acontece de 16 a 30 de novembro, com uma agenda gratuita de oficinas e espetáculos para crianças e adultos

O circo, tradição histórica que atravessa gerações no Brasil, volta a ocupar praças e espaços comunitários de Pernambuco com recorte de identidade e afirmação política. Entre os dias 16 e 30 de novembro de 2025, será realizado o Festival Circo Preto – Negritude no Centro do Picadeiro, iniciativa que reúne cerca de 30 apresentações gratuitas em Camaragibe, São Lourenço da Mata, Recife e Palmares. A proposta é valorizar artistas e grupos negros circenses, reconhecer suas contribuições para a cultura popular brasileira e ampliar o acesso da população às artes.

A escolha do mês de novembro, quando é celebrado o Mês da Consciência Negra, não é casual. A programação destaca o papel de artistas negros na história do circo no país, muitas vezes ausente das narrativas oficiais. Nos circos itinerantes que cruzaram o Brasil ao longo do século XX, foram homens e mulheres negras que sustentaram parte significativa da cena circense nacional, seja como palhaços, músicos, acrobatas ou montadores de lona. O festival recupera essa memória e a projeta na cena contemporânea, com espetáculos que vão do humor popular à pesquisa de linguagem e dramaturgia corporal.

As apresentações serão realizadas em espaços de grande circulação pública, como praças, parques, escolas e Centros Comunitários de Paz (Compaz), reforçando a ideia de que a cultura deve estar presente nos territórios e não restrita a equipamentos centrais. Na Praça da Várzea, no Recife, a abertura do festival terá o espetáculo “A Lenda Viva: Mágico Alakazam”, voltado para o público familiar. Em escolas públicas do Recife, como a Escola Jarbas Passarinho, crianças e adolescentes assistirão a montagens como “O Circo de Todos” e “Circo de Pulgas”, aproximando a arte circense do cotidiano escolar.

A programação também contempla ações de formação. Oficinas de “Manipulação de Claves”, “Palhaçaria e Práticas de Rua” e “Letramento Racial – Aquilombamento, Afrocentricidade e a Importância das Estéticas Negras na Pedagogia e nas Artes” serão realizadas com jovens, artistas iniciantes e educadores da rede pública. No COMPAZ Ariano Suassuna, por exemplo, a oficina com o grupo Circo Rodado (PR) dialogará com metodologias que unem improvisação, escuta coletiva e ocupação do espaço urbano como território artístico. Já no SESC São Lourenço da Mata, espetáculos como “Parêia”, do Circo Experimental Negro (PE), apresentam uma abordagem que une corpo, música, memória e política cultural.

Um dos diferenciais do festival é a diversidade regional dos artistas convidados. Além de grupos de Pernambuco, participam artistas do Pará, Rio Grande do Norte, São Paulo e Paraná. Essa circulação favorece o intercâmbio cultural e permite que o público tenha acesso a estilos, narrativas e estéticas distintas. Da Amazônia, por exemplo, vem Assucena Pereira, que apresenta “Lérygou – Princesa do Pitiú”, espetáculo que mistura elementos da oralidade ribeirinha com palhaçaria. De São Paulo, a Cia Gravidade Virtual traz acrobacias contemporâneas que dialogam com dança e suspensão aérea. Do Paraná, o Circo Rodado desenvolve trabalhos que buscam a aproximação direta com a rua e a troca com o público.

“Realizar o festival no mês da Consciência Negra é reafirmar que a presença negra na arte circense sempre existiu e segue viva. Novembro é um tempo de memória, mas também de futuro. Queremos que as crianças e jovens se reconheçam no picadeiro, entendam que a arte também lhes pertence e que a cultura é um direito de todos”, destaca Flávio Santana, idealizador do festival.

A proposta de descentralizar a programação é uma das diretrizes do festival. Ao ocupar espaços abertos e bairros periféricos, o projeto fortalece a circulação cultural em áreas que historicamente enfrentam barreiras de acesso à produção artística. “Aproximar a cultura da rotina das comunidades é fundamental para ampliar a participação social e criar vínculos duradouros entre arte e território” acrescentou Flávio.

O Festival Circo Preto – Negritude no Centro do Picadeiro foi contemplado pela Política Nacional Aldir Blanc Pernambuco (PNAB-PE) e conta com apoio financeiro do Governo do Estado de Pernambuco, por meio da Secretaria de Cultura e da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (FUNDARPE), com recursos da Política Nacional Aldir Blanc, direcionada pelo Ministério da Cultura – Governo Federal. O projeto também recebe incentivo do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura – FUNCULTURA.

Programação

16 de novembro — Camaragibe

17h – Praça da Várzea
 “A Lenda Viva: Mágico Alakazam” – Circo Mágico Alakazam (PE)

19 de novembro — Recife

10h – Escola Jarbas Passarinho
 Coletivo 3º Ato (PE) – “O Circo de Todos”
 15h30 – Escola Jarbas Passarinho
 Palhaço Fio Dental (PA) – “Circo de Pulgas”
 16h – Parque da Macaxeira
 Trupe Baião de 2 (SP) – “Moko”

20 de novembro — Camaragibe

16h – Parque Camaragibe — Varieté da Consciência Negra
 Mestre de cerimônia: Palhaço Cafuné (PE)
 Com: Cia Gravidade Virtual (SP), Aranha (RN), Palhaço Paçokinha (PE), Jonauto Andrade & Renato Inácio (PE), Palhaça Carambola (PE), Cia de Circo Ancestral (PE)

22 de novembro — Camaragibe

09h–12h – EPC
 Oficina: Manipulação de Claves – Cia Gravidade Virtual (SP) 17h30 – Escola Própria 7 (Mocambo)
 Trupe Circuluz (PE) – “Circo Trupiada”
 19h – EPC
 Cia Gravidade Virtual (SP) – “Circo Dus Dois”

23 de novembro — São Lourenço da Mata

17h – SESC São Lourenço da Mata
 Circo Experimental Negro (PE) – “Parêia”

24 de novembro — São Lourenço da Mata

10h – SESC São Lourenço da Mata
 Circo Disney (PE) – “O Circo da Família Vidal”

25 de novembro — Recife

15h – Cine Teatro Apolo
 João Ferreira (PE) – “Hamlet” (versão circense)

26 de novembro — Camaragibe

16h – Parque Açude do Timbi
 Coletivo 3º Ato (PE) – “Sem Nome – O Desempregado”

27 de novembro — Recife

09h–12h – COMPAZ Ariano Suassuna
 Oficina: Palhaçaria e Práticas de Rua – Circo Rodado (PR) 16h – COMPAZ Ariano Suassuna
 Circo Rodado (PR) – “Magias Estarrecedoras”

28 de novembro — Recife

09h–12h – COMPAZ Ariano Suassuna
 Oficina: Afroletramento Circense – Circo Experimental Negro (PE) 10h – COMPAZ Miguel Arraes
 Ronaldo Aguiar – Circo de Mão (SP) – “A Saga de um Palhaço Sem Lona”

29 de novembro — Camaragibe

17h – Praça da Várzea
 Assucena Pereira (PA) – “Lérygou – Princesa do Pitiú”

30 de novembro — Camaragibe

17h – Praça da Várzea — Varieté de Encerramento
 Mestra de cerimônia: Assucena Pereira (PA)
 Com participações de Mafê Leal (SP), Kaui Mouts (SP), Mágico Erisson (PE), Mateus Lima (PE), Cia D’Loucos (PE), Palhaço Pinóquio (PE) e Ester Albuquerque (PE).

Serviço:

O quê: “Festival Circo Preto – Negritude no Centro do Picadeiro” realiza programação itinerante nas cidades do Recife, Camaragibe, São Lourenço da Mata e Palmares

Quando: 16 a 30 de novembro

Mais informações: www.instagram.com/festivalcircopreto

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