Com incentivo da PNAB, a 12ª edição do Azougue Festival presta uma homenagem especial ao legado de Mestre Salu, artista que revelou a cultura popular pernambucana ao mundo e influenciou outras gerações da música. Evento começa nesta quarta-feira (12) e segue até domingo (16), com várias atividades dedicadas ao artista
O Azougue Festival celebra os 80 anos de Mestre Salustiano e reafirma legado da cultura popular pernambucana. A 12ª edição do evento será realizada a partir desta quarta-feira, 12 e segue, até o domingo, 16 de novembro, nas cidades de Olinda e do Recife, com programação gratuita dedicada ao nascimento do Mestre Salustiano (1945–2008). Figura central da cultura popular nordestina, Mestre Salu, como era conhecido, é uma figura reconhecida como patrono da tradição raiz no estado.
Sua trajetória dentro da tradição popular foi construída por sua participação como rabequeiro, mestre de cavalo marinho, brincante de maracatu rural e fundador da Casa da Rabeca, sediada em Olinda. Ao longo de sua vida, ele consolidou-se como um movimento de preservação e valorização à cultura afro-brasileira. Além disso, contribuiu de forma artística e histórica no universo das novas gerações de músicos, comunidades culturais e estudiosos.
Ainda menino, aos sete anos, Salustiano já brincava no cavalo-marinho pelos engenhos de Aliança, na Zona da Mata Norte de Pernambuco. Cresceu experimentando o universo dos folguedos. Sua alegria e diversão foi se vestir e brincar dos personagens que fazem parte do folguedo, como arriquim, galante, cantador de toada, mateus, até tornar-se mestre.
Seu pai, João Salustiano, era tocador de rabeca e foi com ele que aprendeu o instrumento. A infância foi marcada por uma convivência direta com ciranda, coco, maracatu, mamulengo, forró e improviso de viola. Estudou até a 4ª série primária, trabalhou como doméstico, vendedor de sorvete e ambulante. Costumava dizer que foi, durante muitos anos, o maior dançador de cavalo-marinho, e nos versos de maracatu inspirava-se no mestre Antônio Baracho.
Em 1965, mudou-se para Olinda e passou a tocar rabeca profissionalmente, dominando também a luteria, construindo os próprios instrumentos. Na década de 1970, sua arte alcança maior visibilidade e, em 1977, participa de comercial de televisão. Em 1989, é entrevistado no programa Som Brasil, ampliando sua projeção nacional.
Passou a viajar pelo país e pelo mundo, representando a cultura popular em Cuba, Bolívia, França e Estados Unidos. Recebeu o título de Reconhecido Saber pelo Conselho Estadual de Cultura em 1990 e o título de Doutor Honoris Causa pela UFPE, além de ser condecorado Comendador da Ordem do Mérito Cultural pela Presidência da República em 2001.
Ao longo da vida, manteve a família como núcleo de transmissão do conhecimento e da prática cultural. Foi fundador do Cavalo Marinho Boi Matuto, do Mamulengo Alegre e do Maracatu Piaba de Ouro, além de ser um dos articuladores do Encontro de Maracatus Rurais e das celebrações na Casa da Rabeca.
Nesse espaço, inaugurado e mantido pela família em Cidade Tabajara, Olinda, a cultura não era apenas apresentada, mas vivida em convívio comunitário, em rodas, ensaios, festas, sambadas e encontros que atravessavam gerações.
Salustiano esculpia máscaras, construía rabecas e outros instrumentos, criava personagens, tocava, cantava, dançava e ensinava. Era artista, artesão, mediador e líder comunitário, articulando projetos culturais e encontros de grande dimensão.
Sua discografia reúne quatro álbuns influentes para a música popular nordestina: O sonho da rabeca, As três gerações, Cavalo-marinho e Mestre Salu e a sua rabeca encantada. Entre seus quinze filhos, alguns também seguiram caminhos artísticos, como o músico e compositor Maciel Salú, os rabequeiros Wellington e Cleiton Salu e o bailarino Pedro Salustiano. A família segue como guardiã do legado e responsável pela continuidade das festas, oficinas e apresentações.
Mestre Salustiano faleceu no Recife em 31 de agosto de 2008. Seu legado, porém, permanece vivo não apenas na memória afetiva de quem o conheceu, mas nas práticas, expressões e saberes de grupos, jovens, pesquisadores e artistas que seguem transformando a tradição em movimento.
Por isso, nesta edição especial, o Azougue Festival assume o tema “Salú 80″ como afirmação de continuidade. A abertura acontece na quinta-feira (12), data do aniversário do mestre, com vivência cultural para estudantes na Casa da Rabeca e sessão solene na Assembleia Legislativa de Pernambuco, onde será apresentado o Projeto de Lei que propõe o Dia Estadual da Cultura Popular.
Na sexta-feira (13), acontecem oficinas de Cavalo Marinho e Rabeca, conduzidas pela Família Salustiano. No sábado (14), ocorre a Ação Griô em escolas públicas de Olinda.
No sábado à noite (15), a Casa da Rabeca recebe a grande festa com apresentações da Família Salustiano, Maciel Salú, Geo Salu, Maracatu Piaba de Ouro, Cavalo Marinho Boi Matuto de Olinda, Quadrilha Raio de Sol, projeções visuais de Toni Braga e Som na Rural.
O encerramento será no domingo (16), com o Cine Azougue, no Cinema São Luiz, reunindo documentários e videoclipes que aproximam a trajetória do mestre às expressões contemporâneas.
Para Maciel Salú, um dos filhos do homenageado, e atualmente, músico, rabequeiro e diretor do festival, celebrar os 80 anos de seu pai, Salustiano, é reafirmar a continuidade da memória e da presença do mestre no tempo. “Mestre Salustiano foi além de um artista. Foi ponte entre mundos, abriu caminhos para que a cultura popular fosse reconhecida como fundamento de identidade, como força criativa e como política de vida. O Azougue existe para garantir que essa tradição siga pulsando, transformando e inspirando” destacou.
O festival é realizado com incentivo da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), através do Governo do Estado de Pernambuco, Secretaria de Cultura de Pernambuco, Ministério da Cultura e Governo Federal, com realização da Grão – Comunicação e Cultura, Casa Azougue e Maciel Salú.
Serviço:
O quê: Festival em comemoração aos 80 anos de Mestre Salustiano terá cinco dias de programação
Quando: De 12 a 16 de novembro
Onde: Recife e Olinda
Mais informações: https://www.instagram.com/projetoazougue

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