Estudo aponta que escolaridade é fator decisivo para o hábito de leitura e que preço continua sendo barreira de acesso cultural para a população menos favorecida
O Centro Universitário Frassinetti do Recife (UniFAFIRE) através do Núcleo de Inteligência de Mercado acaba de divulgar os resultados de uma pesquisa inédita relativa à hábitos de leitura e o interesse dos recifenses na XV Bienal Internacional do Livro. O estudo, realizado entre os últimos dias 12 e 26 de setembro, ouviu 801 moradores da Região Metropolitana do Recife (RMR) por meio de questionários estruturados e aplicados em diferentes pontos da cidade – de Boa Viagem ao Marco Zero, passando por bairros como Várzea, Casa Forte, Madalena, Jaqueira e Ibura. O nível de confiança é de 95% e a margem de erro é de 3,5 pontos percentuais.
O levantamento buscou compreender como fatores econômicos, sociais e educacionais influenciam o comportamento dos leitores e sua relação com a Bienal do Livro de Pernambuco, que acontece de hoje (3) a 12 de outubro, no Recife. Os principais resultados apontados indicam que a escolaridade é fator determinante e a leitura está fortemente associada ao ensino superior. Quem concluiu ou está cursando faculdade tende a manter o hábito de leitura, enquanto a maioria dos que pararam no Ensino Médio deixam de ler após a fase escolar. A leitura é ocasional, a maior parte dos entrevistados lê entre 1 e 3 livros por ano, muitas vezes por obrigação ligada a estudo ou trabalho. A falta de tempo (57,43%) foi apontada como a principal barreira, seguida da dificuldade de concentração com 18% dos pesquisados, reflexo da rotina acelerada e da influência da cultura digital.
O estudo identificou que, apesar do avanço das tecnologias, o livro físico segue dominante com mais de 70% dos entrevistados dizendo preferir o formato impresso, valorizando conforto, foco e experiência afetiva proporcionada pelo papel. A escolha se mantém forte até mesmo entre os jovens de 18 a 24 anos. No entanto, o fator preço se confirma como uma barreira social para famílias de baixa renda, onde o custo é decisivo. Mais de 66% da população com até um salário mínimo considera os livros caros, o que limita o acesso cultural. Já entre leitores mais assíduos ou de maior poder aquisitivo, o preço é visto como justo.
A pesquisa também procurou entender sobre as motivações que levam os leitores até a Bienal. O espaço é visto, principalmente, como um ambiente de lazer e consumo moderado. A maioria dos respondentes, ou seja, 44,26% pretende visitar o evento para “passear e conhecer”, enquanto 29,87% buscam descontos na compra de livros. E mais da metade dos entrevistados, ou seja, 52%, planeja gastar até R$ 100, evidenciando o perfil econômico do público.
Para o professor e pesquisador João Paulo Nogueira, coordenador do Núcleo de Inteligência de Mercado da UniFAFIRE, que comandou a pesquisa, os dados revelam um paradoxo cultural mostrando que a leitura não está consolidada como hábito autônomo, mas como prática associada à obrigação escolar ou acadêmica. Além disso, questões como tempo e renda se impõem como barreiras centrais ao consumo cultural. “O estudo mostra que precisamos fortalecer a educação básica e criar políticas de acesso ao livro para além da universidade. O preço ainda é uma barreira social, e o tempo, uma barreira prática. A Bienal surge como oportunidade de ampliar esse contato, mas ainda é percebida mais como lazer do que como espaço de formação cultural”, aponta.
Sobre a pesquisa – Foi conduzida pela UniFAFIRE Inteligência de Mercado, com apoio da Projetos Júnior e consultores, aplicando questionários estruturados em diferentes áreas da RMR. O objetivo foi mapear hábitos de leitura, barreiras de acesso e expectativas para a Bienal do Livro, relacionando-os às variáveis econômicas e sociais da população recifense.

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