A quinta edição do projeto chega pela primeira vez a um público infantil, dentro da celebração “Um Dia para Ibeji”, valorizando a memória, cultura afro-indígena e protagonismo das novas gerações. São 20 vagas para crianças de 6 a 15 anos, que terão a oportunidade de aprender e vivenciar todas as etapas da criação de um curta-metragem

Nos dias 27 e 28 de setembro, o Terreirada em Cena, idealizado pela fotógrafa e realizadora audiovisual Uenni, realiza sua quinta edição no Terreiro Axé Talabi, em Paratibe, Paulista (PE). Pela primeira vez, o ciclo formativo de cinema chega ao universo infantil, com uma oficina gratuita de animação stop-motion voltada para crianças de 6 a 15 anos. A iniciativa conta com o incentivo da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), por meio da Prefeitura de Paulista.

A oficina integra a celebração de “Um Dia para Ibeji”, data dedicada às crianças nos terreiros de matriz afro-indígena, em que a infância é entendida como símbolo de continuidade da vida e perpetuação da tradição. São oferecidas 20 vagas, com prioridade para participantes de comunidades de terreiro, mas também abertas a outros interessados. As inscrições serão presenciais no dia 27, a partir das 8h.

Durante os dois dias, as crianças terão a oportunidade de vivenciar todas as etapas da produção audiovisual, desde a concepção da ideia até a criação de personagens, captação de sons, animação e edição, culminando em um curta-metragem coletivo. A oficina incentiva a apropriação do audiovisual por pessoas de terreiro, desmistificando seus processos e promovendo obras que dialoguem com cinema, história e memória, valorizando a riqueza da cultura e das tradições afro-indígenas.

Segundo Uenni, a prática busca valorizar o protagonismo de cada participante, fortalecendo tanto a narrativa individual quanto coletiva. “Por meio da linguagem lúdica e criativa do stop-motion, os ensinamentos e histórias transmitidos pelos mais velhos ganham forma em imagens, sons e movimentos, preservando a força da oralidade, da partilha e do criar em coletivo. Nesse processo, cada criança exercita a imaginação e a escuta, entendendo que o audiovisual pode ser um espaço de preservação da memória e invenção, onde o brincar e aprender se encontram”, explica.

Desde sua criação, o Terreirada em Cena já realizou quatro ciclos formativos em terreiros da Região Metropolitana do Recife, resultando em duas produções documentais, um doc-ficção e uma animação em stop-motion. O projeto utiliza o celular como principal ferramenta de filmagem, tornando o processo acessível e descentralizado. Os curtas produzidos compõem um acervo audiovisual dedicado à documentação e preservação das tradições e religiosidades afro-indígenas de Pernambuco, com recursos de acessibilidade, como audiodescrição e legendas.

O Terreiro Axé Talabi, que sediará a oficina, tem importância especial na trajetória de Uenni. Foi nele que ela criou a série “Canjerê dos Pretos Velhos na Jurema Sagrada de Pernambuco”, trabalho que conquistou o 1º lugar no Prêmio Mário de Andrade de Fotografias Etnográficas 2024, levando suas imagens e a riqueza das tradições do terreiro ao reconhecimento nacional. No mesmo dia do início da oficina, 27 de setembro, Uenni estará no Rio de Janeiro, a convite do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP/Iphan), para a abertura da exposição nacional dos trabalhos premiados. A programação inclui visita conversada e mesa sobre fotografia etnográfica, na qual ela discutirá a imagem como ferramenta de representação e preservação das memórias e tradições afro-indígenas.

TERREIRO AXÉ TALABI – O Ilé Àse Òrìsànlá Tàlábí, conhecido popularmente como Terreiro Axé Talabi, é uma comunidade tradicional localizada no bairro de Paratibe, em Paulista (Região Metropolitana do Recife), em atividade há mais de trinta anos, preservando práticas do candomblé nagô e do culto à Jurema Sagrada do Rei Salomão. Foi fundado por Maria da Solidade Sousa França – Mãe Dada de Oxalá (Tàlábí Deyìn) – e seu companheiro, Aguinaldo Barbosa de França (Obá Dodê) – no mesmo endereço onde funciona atualmente. As primeiras atividades rituais públicas do Terreiro ocorreram em janeiro de 1991; entretanto, suas raízes são ainda mais antigas, com fundamentos iniciados pela família dos fundadores. Além do calendário litúrgico, o terreiro desenvolve projetos culturais, educacionais e sociais, fortalecendo a ancestralidade afro-indígena e a relação com a comunidade local.

Reconhecido por sua importância cultural e espiritual, o Terreiro foi declarado Patrimônio Vivo de Pernambuco (2023), Patrimônio Histórico e Cultural de Origem Africana e Afro-indígena Brasileira do Município de Paulista (2021) e Patrimônio Cultural dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana – IPHAN (2015). Também recebeu o Prêmio Ayrton de Almeida Carvalho de Preservação do Patrimônio Cultural – SECULT/PE (2018) e, em 2015, também foi reconhecido como Ponto de Memória pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), dando origem ao Ecomuseu Mímó Igbó e consolidando o Terreiro como um espaço de memória social, educação patrimonial e preservação das tradições afro-indígenas.

SERVIÇO
Terreirada em Cena – Ciclo Formativo em Stop Motion para Crianças
Data: 27 e 28 de setembro de 2025
Horário: Das 8h às 16h
Local: Ilé Àse Òrìsànlá Tàlábí – Rua Orobó, 257, Paratibe – Paulista-PE
Entrada: gratuita
Público-alvo: crianças de 6 a 15 anos, de terreiros afro-indígenas ou interessadas em participar

Mais informações:
Instagram: @terreiradaemcena
Idealização: Uenni @uenni
Realização: Terreirada em Cena
Incentivo: Política Nacional Aldir Blanc – PNAB – Prefeitura Municipal de Paulista

Foto: Paloma Lima

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