Criação de Rebeca Gondim, que mescla dança, música e poesia, inicia circulação gratuita por seis periferias do Recife denunciando a violência e celebrando a cultura negra.

A dor de uma mãe preta que perde o filho para a violência policial – uma realidade brutal nas periferias brasileiras – é a centelha que acende “Revinda”. O espetáculo de dança, música e poesia, concebido pela artista Rebeca Gondim, não é apenas uma performance, mas um ato de denúncia e celebração da vida negra. A estreia acontece neste sábado (26), às 17h30, na Praça da UR 06, no Ibura, marcando o início de uma circulação gratuita por seis bairros periféricos do Recife, sempre com acessibilidade em Libras.

O nome “Revinda”, que remete ao regresso, espelha a própria história da obra. Nascida em 2015 como um solo de dez minutos chamado “Terezinha” – homenagem a uma vítima real da violência policial no Complexo do Alemão (RJ) –, a peça cresceu e foi contemplada pelo Funcultura em 2019 para ganhar as ruas. A pandemia, no entanto, adiou a estreia em 2020, forçando uma adaptação temporária para o formato audiovisual.

Agora, cinco anos depois, com novo fomento do Funcultura e da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB Recife), “Revinda” retorna ao seu formato original: a rua, o olho no olho com o público. Mas o tempo trouxe mudanças profundas. A artista Rebeca Gondim abandonou o formato solo e buscou a força do coletivo.

“Em ‘Terezinha’ eu estava só. Nessa volta agora eu busquei a força que vem do coletivo. Trouxe meu irmão (Filipe Gondim), artistas que me inspiram, meus pais para os laboratórios”, conta Rebeca. Ela descreve o processo como um “aquilombar-se”, formando uma “encruzilhada de histórias” com colaboradores como Maria Agrelli (coautoria e preparação corporal) e Léo Bulhões (trilha sonora).

Diálogo com os Territórios

Essa natureza coletiva se expande a cada apresentação. Rebeca atua como Mestra de Cerimônias, costurando a performance com dança e poesia, enquanto artistas locais são convidados a compartilhar a cena, tornando cada sessão única.

Na estreia no Ibura, território que Rebeca descreve como “uma potência artística”, ela divide o palco com a música inovadora de Pajé IB, que funde Drill, Brega e Hip Hop, e a dança afro-percussiva de Lua Maria. “É uma honra poder pisar e dançar nesse lugar que é tão fértil culturalmente”, afirma.

A circulação segue em maio, sempre aos sábados, às 17h30: Morro da Conceição (03/05), com o frevo de Bhruno Henrique e a percussão de Lucas dos Prazeres; Água Fria (10/05), com a poesia de Adelaide; Alto Santa Terezinha (17/05), com o teatro/poesia de Brunna Martins; Bomba do Hemetério (24/05), com a dança de Smael Dias e Marcela Santos; e Beberibe (31/05), bairro de Rebeca, com DJ Renna e intervenção de caligrafia urbana.

Resistência Cultural

No cerne, “Revinda” denuncia o genocídio da população negra, mas transcende a dor ao evidenciar o poder das coletividades e manifestações culturais como ferramentas de resistência. Os artistas convidados, reconhecidos em seus territórios, compartilham esse engajamento na luta por direitos humanos e na afirmação cultural.

A ficha técnica conta ainda com João Guilherme de Paula (luz), Dj Phino e Léo Bulhões (trilha), Bárbara Regina (percussão), Filipe Gondim e Laura Morgado (Comunicação Visual), Júnior Melo e Renata Teles (produção) e Joselma Santos (Libras).


SERVIÇO:

Espetáculo “Revinda” (Circulação)

  • O quê: Espetáculo de dança, música e poesia sobre resistência negra e periférica.
  • Estreia: 26 de abril (Sábado), 17h30
  • Local Estreia: Praça da UR 06, Ibura, Recife-PE
  • Próximas Apresentações (Sábados de Maio, 17h30):
    • 03/05: Morro da Conceição
    • 10/05: Água Fria
    • 17/05: Alto Santa Terezinha
    • 24/05: Bomba do Hemetério
    • 31/05: Beberibe
  • Acesso: Gratuito
  • Acessibilidade: Intérprete de Libras
  • Classificação: Livre
  • Informações: Instagram @rebecagondim__
Rebeca Gondim. Foto: Filipe Gondim

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